sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um pagador de impostos entra na mira dos caloteiros federais


Do site do Augusto Nunes:
Muito prazer: sou, possivelmente, uma das vítimas do amantegado calote nas restituições. Nos últimos anos, tenho sido católico na entrega da declaração: primeiro dia do prazo. E por interesse próprio: sendo minha declaração franciscana, por escassez de fontes pagadoras, bens e negociatas, invariavelmente tenho recebido minha restituição (sim, pago mais do que devo) já no segundo lote ─ o primeiro é o dos velhos. Com essa grana, que de origem é minha, saldo compromissos ─ às vezes com outros impostos. Este ano, perdi o segundo, o terceiro, o quarto lote. Neste quinto, aberto para consulta ontem, também não veio o aviso de restituição, mas ganhei um reparo: tenho “pendências” com o IR. Que consultasse meu extrato junto à Receita. Para a consulta do extrato, conheci o Gulag da Receita. O telefone 146 não funciona. Perdi pelo menos duas horas nas gavetas e no computador para conhecer meu extrato e meus pecados fiscais - pedem recibo das declarações anteriores, código de acesso, senha, o diabo. Enfim, cheguei ao pré-sal do meu extrato. Do ponto de vista fiscal, nada consta. Mas aparece ali uma “irregularidade” gravíssima: eu seria dono de 1% de uma microempresa na área de publicidade. Nunca tive a mais remota notícia de minha sociedade microminoritária nessa microempresa, mas agora, lendo a declaração do ministro aqui em cima, entendi o que se passa. E me senti como um Al Capone. Diz Guido Ness Mantega: “O que nós fazemos é priorizar a restituição daqueles contribuintes sem problemas, que não estão na malha fina”. Minha restituição ─ descobri hoje ─ está sendo usada para financiar a queda de arrecadação do governo e o empréstimo ao FMI. Mas, para um governo que você descreve tão bem em seu texto, não basta reter ─ é preciso também criar um clima de intimidação através de falsas e misteriosas “pendências”. Assim, enquanto vai atrás do bodinho que colocaram na sua sala, você esquece que a restituição não foi restituída. Michel Temer não cai, Sarney não cai, Agaciel não cai, Delúbio não cai, Amazonino Mendes não cai, Newton Cardoso não cai, Quércia não cai. Caí na malha fina. Peraí, pessoal: eu nunca estive entre os que gritaram Fora FMI. Mas daí a emprestar o meu pra eles…
*Texto de Celso Arnaldo

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