sábado, 3 de outubro de 2009

O lado bom da amargura

Lilia Cabral subiu de patamar nas novelas ao interpretar mulheres insatisfeitas. Como Tereza, de Viver a Vida, está roubando a cena.
A atriz Lilia Cabral tem sido abordada nas ruas por mulheres indignadas com a situação de sua personagem na novela Viver a Vida, de Manoel Carlos. As espectadoras acham o fim da picada que Tereza, ex-modelo elegante e mãe exemplar, tenha sido abandonada por seu marido cafajeste, Marcos (José Mayer). E ficaram irritadíssimas com a cena em que Tereza flagrou a heroína Helena (Taís Araújo), que fisgou o coração de seu ex, provando o vestido de noiva em seu quarto na mansão da família em Búzios (como se já não fosse humilhação suficiente, convenhamos, se sujeitar a dividir a mesma casa de praia após o divórcio). "Digo às mulheres que também morro de raiva. Naquela cena, minha vontade era jogar um sapato na cara da Helena", afirma a atriz. Por enquanto, essa desforra é incompatível com a personagem. Lilia faz de Tereza a imagem viva da resignação e infelicidade femininas, um registro que se tornou sua marca nos folhetins. Em Páginas da Vida (2006), também de Manoel Carlos, ela subiu de patamar ao representar Marta, uma mulher amargurada cujas ambições de ascensão social acabaram frustradas pelo casamento com um marido banana. Mais recentemente, em A Favorita (2008), interpretou Catarina, dona de casa anulada por um marido castrador e violento.
Paulistana de 52 anos, Lilia iniciou sua carreira no fim da década de 70, às escondidas do pai, um italiano que não queria saber de filha atriz. Por pelo menos duas décadas, foi mais conhecida pelo trabalho no teatro do que na TV – pois nas novelas parecia fadada a papéis quase sempre leves e de pouca relevância. A Marta de Páginas da Vida mudou isso. "Só aconteci de verdade na televisão depois dessa personagem", reconhece Lilia. A atriz consegue dar vazão à amargura em todas as suas nuances. Marta era uma criatura doentia que enxergava como sinal de fracasso até o fato de ter uma neta com síndrome de Down. Catarina exibia uma autoestima tão baixa que nem consciência tinha de quanto sua vida era ruim. Como Tereza, Lilia outra vez rouba a cena (Taís Araújo que se cuide: a personagem transmite tanta, digamos, verdade que está colocando a protagonista Helena na posição de antipática). Tereza, ex-modelo, trocou a trajetória de sucesso pela dedicação a um homem – e agora o vê refazer sua vida com uma jovem expoente da profissão (e rival de sua filha Luciana, vivida por Alinne Moraes). "Tereza é uma mulher inconformada. E mulheres inconformadas não deixam ninguém em paz", afirma Lilia. Tal como sua atual personagem, a atriz enfrentou o fim de uma união de sete anos, em 1994. Pouco depois, casou-se pela segunda vez – com o economista Iwan, pai de sua filha de 12 anos. "Na vida real, jamais agi como Tereza", diz. "Longe de mim ser porta-voz de mulheres infelizes."

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