RIO - O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, cobrou propina da operadora de planos de saúde Amil e da Rede D´Or, que comanda hospitais no Rio, para aprovar uma emenda numa Medida Provisória (MP) que permitia a participação de capital estrangeiro nesses setores. Essa é uma das revelações feitas pelo doleiro Lúcio Funaro, operador de propina para políticos do PMDB, na sua proposta de delação premiada.
Segundo ele, a Medida Provisória 656 foi usada para criar a possibilidade de investimento estrangeiros majoritários ou não para hospitais, laboratórios médicos e planos de saúde. A negociação teria se dado em 2014 entre Cunha, que ainda não presidia a Câmara dos Deputados, e Edson Bueno, representante da Amil, e o banqueiro Andre Esteves, que representava os interesses do Banco BTG, sócio da Rede D´Or.
"Essas empresas obtiveram benefícios pleiteados e, em troca, fizeram doações para a campanha de Eduardo Cunha", disse o delator ao Ministério Público Federal.
Funaro disse que as medidas provisórias eram os principais veículos de cobrança de propinas no Congresso Nacional e que Cunha, por ter amplo conhecimento do regimento interno da Câmara e influência política, era sempre procurado pelas empresas para incluir seus interesses nas MPs.
O delator afirmou ainda que sempre que Cunha dizia que havia "acertado" com algum empresários significava que havia "algum pagamento de vantagem indevida".
Em nota, a assessoria do BTG e de Esteves disse que manteve e mantém relações com autoridades para contribuir para a modernização do país e confirmou ter feito doações legais para políticos.
“O BTG Pactual mantém e manteve contato com autoridades relevantes a fim de colaborar com o desenvolvimento de medidas legais que contribuam para a modernização do País. O banco apoiou candidatos e partidos políticos quando a legislação em vigor permitia e enfatiza que todas as contribuições foram declaradas aos órgãos competentes e são públicas", diz a nota.
A Rede D´Or disse, por meio da assessoria, que "a companhia nega veementemente qualquer envolvimento no caso citado". O grupo afirmou ainda que nunca fez doações eleitorais a Cunha ou ao deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), que apresentou a emenda que interessava ao setor de saúde.
O operador de Cunha e do PMDB também deixa claro que as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) servem para que os parlamentares achaquem empresários. E que apenas as empresas que não temem estar envolvidas conseguem evitar fazer pagamentos durante as investigações.
"(Esses) pagamentos eram necessários para se evitar indiciamentos, convocações e quebra de sigilo. Essa é a regra dentro do Congresso Nacional. Todos os membros de comissões ou CPIs são usados nesse tipo de manobra, desde a escolha da composição dos membros, na qual já e analisado o perfil de cada integrante", diz o delator na sua proposta de delação.
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