domingo, 22 de outubro de 2017

Empresa de sócio de filho de Lula era fachada para a Oi, diz ex-diretor.

Foto: Raquel Cunha/Folhapress
Marco Aurelio Vitale diretor do Grupo Gol de Jonas Suassuna
Marco Aurélio Vitale, por sete anos diretor comercial do grupo empresarial de Jonas Suassuna, disse em entrevista à Folha que firmas foram usadas como fachada para receber recursos da Oi direcionados a Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, e seus sócios.
De acordo com ele, o Grupo Gol –que atua nas áreas editorial e de tecnologia e não tem relação com a companhia aérea de mesmo nome– mantinha contratos "sem lógica comercial" tendo como único objetivo injetar recursos da empresa de telefonia nas firmas de Suassuna.
"A Gol conseguiu um tratamento que não existe dentro da operadora", afirma.
As empresas de Suassuna receberam R$ 66,4 milhões da Oi entre 2004 e 2016, segundo relatório da PF.
O empresário é dono de metade do sítio em Atibaia (SP) atribuído a Lula. No terreno de sua propriedade não houve reformas –só a instalação de uma cerca– o que o livrou de ser denunciado pelo Ministério Público Federal.
Suassuna iniciou a relação comercial com a família de Lula em 2007, quando se tornou sócio da Gamecorp, de Lulinha, Kalil Bittar (irmão de Fernando Bittar, dono da outra metade do sítio) e da Oi.
Vitale falou à Folha após ser intimado pela Receita Federal, onde afirma ter apontado irregularidades nas empresas. Ele diz não ter participado de atos ilícitos e quer escrever um livro, cujo nome provisório é "Sócio do filho".
Ele foi funcionário do Grupo Folha, que edita a Folha, entre os anos de 1992 e 2001 na área comercial, sem ligação com a Redação. Foi quando conheceu Suassuna, que vendeu CDs da Bíblia na voz de Cid Moreira em jornais, projeto que deixou o empresário milionário.
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Folha - Como o sr. começou a trabalhar com Jonas Suassuna?
Marco Aurélio Vitale - Conheci Suassuna entre 1997 e 1998, quando eu era gerente de marketing da Folha. Saí desse mercado, mas em 2009 apresentei ao Jonas um projeto. É quando ele me chama para trabalhar.
A sociedade com Lulinha [Fábio Luís] já existia.
Ela sempre foi colocada como uma sociedade lícita que não traria benefícios diretos para o Jonas. Exceto o fato de ser sócio do filho do presidente, o que te dá uma visibilidade natural.
Era mais do que isso?
A empresa não tinha negócios para suportar o custo dela. Era possível pensar que fosse algum investimento futuro. Mas isso se perpetua.
O Grupo Gol é conhecido pela "Nuvem de Livros" e como fornecedora de material didático. Eles não eram suficientes?
A editora de fato vendia os livros, com períodos de vendas altas e baixas. A "Nuvem" teve faturamento significativo, mas foi criada em passado recente [2011]. Como a empresa sobrevive de 2008 a 2011? A receita que existia era da Oi. Diretores sabiam que existiam contratos e receitas milionárias, mas nunca ficou claro quanto e pelo quê a Oi pagava.
O que Suassuna falava sobre esses contratos?
Ele não falava. O modelo de gestão sempre foi muito centralizado. Qualquer assunto era tratado de forma fechada com Fábio, Kalil e Fernando. Esporadicamente se encontravam com Lula em São Paulo.
Mas em nenhum momento os diretores questionaram [a relação com a Oi]?
Um deles um dia me viu muito agitado, trabalhando muito ainda no início, e disse: "O que você está fazendo? Aqui é para ganhar dinheiro e não fazer nada". Porque tinha os contratos com a Oi. Eu corria atrás. Mas a percepção que eu tinha era que os inimigos políticos não faziam negócio, e os amigos não faziam com medo de se comprometer.
E como era a relação com os executivos da Oi?
A Gol conseguiu um tratamento que não existe dentro da operadora. Os projetos não passavam pela área de compras, não existia proposta, e eram valores muito elevados tratados e aprovados diretamente pela presidência da Oi. Toda vez que mudava o presidente da Oi, existia um esforço do Jonas, do Kalil, e muitas vezes do Fernando, de ir até a presidência, fazer reuniões. Dava para notar que tinha que explicar por que se pagava dinheiro tão alto para negócios que não tinham fundamento. Era como se fossem pagamentos com compromisso de realização sem lógica comercial.
Qual era o motivo desses contratos?
Muitos dizem que seria uma contrapartida pela mudança da lei da telecomunicação para permitir a compra da Brasil Telecom. Nunca ouvi falarem disso. Esse assunto não era tratado dessa maneira. Mas Jonas e suas empresas foram utilizadas, na minha opinião, como uma fachada necessária para que o Fábio e Kalil realizassem seus negócios através da ligação familiar. Nesse movimento, os negócios não eram o mais importante. O importante era a entrada de dinheiro.
O nome do ex-presidente era usado?
No caso da Oi, não se falava o nome do ex-presidente porque eles queriam buscar outros negócios e existia dentro da Oi uma noção clara de que a Gol só estava lá por causa do então presidente. As pessoas da Oi não se sentiam à vontade de falar sobre isso. Mas, em almoços que Jonas fazia com empresários, ele sempre se posicionava como sócio do filho do presidente, amigo do presidente.
Lula frequentava a empresa?
Não. Só vi uma vez quando já ele tinha saído da Presidência. Jonas queria mostrar as instalações.
Já se sabia do sítio na empresa?
Sabíamos do sítio, mas ele era do Lula. Nunca foi dito que era do Jonas. Ele nunca tratou sendo como dele, sempre tratou como sítio do Lula. [Após a divulgação do caso,] ele fala, em almoço na empresa, que tinha um sítio ao lado, que comprou como investimento.
Como ficou a empresa depois?
Jonas sempre colocou que era injustiça, perseguição.
Por que permaneceu na empresa por tanto tempo?
Eu trabalhava corretamente e ganhava um bom salário. Não fazia uma operação criminosa. Não cometi ilegalidade.
E por que decidiu falar agora?
Chegou o momento. Você não tem a noção da quantidade de pessoa que sabe do que foi feito. Mas ninguém fala.
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OUTRO LADO
O empresário Jonas Suassuna, dono do Grupo Gol, negou em entrevista à Folha ter sido beneficiado pela Oi em razão de suas relações comerciais com Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula.
Ele disse que tem um "carimbão" da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Receita Federal que atestam sua respeitabilidade.
"Tudo isso já passou pelo escrutínio da Receita Federal. Já prestei todas as contas e não fui multado. Levei muito tempo para chegar aonde cheguei. Tenho currículo, respeitabilidade e um carimbão da Polícia Federal e do Ministério Público. Em nenhuma delação eu apareci", disse o dono do Grupo Gol, que não tem relação com a companhia aérea.
O ex-diretor do grupo Marco Aurélio Vitale afirmou que as empresas de Suassuna foram usadas como "fachada" para receber recursos da Oi direcionados a Lulinha –como Fábio é chamado.
Suassuna negou que tratasse de seus negócios diretamente com a presidência da Oi. Apresentou sua agenda telefônica em que constam nomes e números de executivos da companhia, além de e-mails de gerentes e diretores.
"Tratava diretamente com os executivos de venda." Reconheceu, porém, que teve contato com os presidentes da Oi em razão da sociedade comum na Gamecorp.
"Aí [quando se tornou sócio da Gamecorp] eu comecei a entender os caras da Oi. Não precisava do Fábio ou do Lula para falar com a Oi. Eu sou sócio dela num canal de televisão", disse.
O empresário negou também ter usado o nome do ex-presidente para fechar negócios."Não preciso do presidente Lula. Eu não quero. Ganhei nesses anos todos mais dinheiro com a Fundação Roberto Marinho do que com a Oi."
Disse ainda que comprou um dos terrenos do sítio em Atibaia, atribuído ao ex-presidente Lula, a pedido de Jacó Bittar, pai de Fernando e Kalil Bittar e amigo do petista.
"Ele [Jacó] me disse: 'Comprei um sítio, mas o cara só vende dois. O presidente Lula vai sair da Presidência e quero que ele fiquei comigo, porque ele é meu amigo. Quero fazer isso para ele'. Eu tinha R$ 1 milhão. Tinha muito mais. Fui lá e comprei. Com meu dinheiro eu compro o que eu quiser", disse ele.
Em nota, assessoria de Suassuna afirmou que a as acusações de Vitale são "fruto de tentativa frustrada de chantagem".
"A Gol não pactua com qualquer irregularidade, muito menos com tentativa absurda de extorsão, o que significaria uma tentativa de obstrução de Justiça", diz a nota.
A Oi afirmou, em nota, que as empresas do Grupo Gol "são reconhecidas no mercado e fornecedoras de grandes companhias que operam no país".
A defesa de Lula afirmou que os fatos relacionados à Oi e às empresas de Lulinha "já foram objeto de inquéritos e todos eles foram arquivados porque não foi identificada a prática de qualquer ato ilícito, seja do ex-presidente, seja por seu filho".
Em relação ao sítio, a defesa do petista alega que ele "foi adquirido pelas pessoas que constam na matrícula do imóvel como proprietárias, que aplicaram recursos próprios e com origem demonstrada".
Lulinha, Kalil e Fernando Bittar não se pronunciaram até a conclusão desta edição.
BÍBLIA
Suassuna afirmou que a Oi demonstra interesse no conteúdo da "Bíblia na Voz de Cid Moreira" desde 2003, quando apresentou uma proposta de compra do conteúdo.
Conta ainda que o fato dos CDs da Bíblia terem vendido mais de 65 milhões de cópias entre o fim da década de 1990 e início de 2000 comprova que o valor pago pela Oi em 2009 não foi superfaturado."A Oi não fez um mau negócio. Ela teve por quatro anos exclusividade de um produto que é um espetáculo."
Questionado sobre o baixo acesso ao portal de voz em mais da metade do contrato, ele disse que a Bíblia pode ter sido oferecida em pacotes da operadora para atrair mais clientes –o que não seria computado no acesso.
Inicialmente, ele negou que o contrato previsse divisão de receita. Depois, porém, admitiu que não acompanhava o volume de acesso mensal ao portal.
"A Oi me pagou bonitinho. Fiz o que me competia: divulguei o produto, paguei a Cid Moreira, cumpri toda a minha história. Tudo como manda a santa amada igreja."
* Por ITALO NOGUEIRA

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