segunda-feira, 14 de julho de 2014

Os BRIC's

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Mirian Leitão procurava, no Globo de domingo, definir o que são os BRICS, cujos presidentes estão aí, reunidos com dona Dilma.
A primeira definição que lembrou é a do embaixador Marcos Azambuja que diz que os BRICS são "uma tribo que só tem caciques". Fez, então, a mesma pergunta para o embaixador Jose Alfredo Graça Lima, nosso representante nos contatos com esse grupo, que não soube responder afirmativamente; preferiu dizer o que os BRICS não são e mencionou uma lista de coisas vagas.
A definição de Azambuja carrega mais significados do que parece à primeira vista. Na verdade é uma síntese perfeita da realidade.
Na sua extensa lista de "nãos" Graça Lima não se lembrou do mais definidor entre eles, que é o que mais aproxima os BRICS uns dos outros: nenhum dos países membros do grupo é uma meritocracia. São todos Estados que se encontram a distâncias variadas da democracia, mas estão todos longe dela.
O que eles têm em comum -- embora em dosagens diferenciadas -- é recusar a abordagem da economia e do comércio exterior exclusivamente por critérios objetivos. Em todos eles o que realmente vale é a vontade dos caciques, que tratam com igual dose de casuismo voluntarista -- ou por razões alegadamente ideológicas ou por outras -- tanto os seus próprios produtores e empreendedores quanto os seus parceiros comerciais.
Uma palavra de Vladimir Putin, Xi Jiping, Jacob Zuma, Dilma Rousseff ou Narenda Modi (o novato do grupo e meio diferentão de seus pares) vale mais do que tudo o que está escrito, seja nos contratos, seja nas leis e até nas constituições vigentes nos seus próprios países.
Isso naturalmente tem um custo pesado para suas economias, que se traduz nos handicaps sociais do costume. Mas, naturalmente os donos dessses poderes ilimitados não admitem essa relação de causa e efeito. Por isso têm de procurar "culpados" por essas doenças crônicas fora de suas fronteiras.
Eis porque, mais do que tratar de facilitar o comércio entre eles, as reuniões dos BRICS concentram-se em atacar os acordos comerciais e, especialmente, as instituições das democracias com que concorrem -- onde, sim, a lei vale mais que a vontade do cacique da hora (porque não os ha perpétuos) -- e os organismos economicos multilaterais atuam segundo regras pre definidas que estão acima da vontade ou das conveniências eleitorais de momento de seus líderes. São eles que têm de se adaptar aos fatos e não os fatos a eles.
A segurança jurídica e regulatória é o único elemento essencial ao desenvolvimento econômico. Se isto estiver garantido, o empreendedor saberá se adaptar a tudo o mais, inclusive às diferenças entre diferentes sistemas estáveis.
Mas a insegurança jurídica e a instabilidade das regras do jogo são mortais.
No dia em que regras economicas estáveis passarem a prevalecer nos BRICS, entretanto, terá sido porque o regime de caciquia de que fala Azambuja, e os sistemas de privilégio alimentados por esse voluntarismo tão caro que sustenta esses caciques no poder, acrescento eu, terão sido removidos para a lata de lixo da História.
Desenvolvimento econômico sustentável e caciquia são coisas que não podem conviver uma com a outra. Quando parece o contrário é porque ha um forte elemento distorsivo -- excesso de mão de obra barata ou de disponibilidade de alguma commodity essencial, como petróleo, minérios ou bens da agricultura -- compensando com vantagens ohandicap da caciquia.

*Publicação by fernaslm - O que são os BRICS? - Em O Vespeiro.

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