Uma
revolução energética iniciada nos Estados Unidos pôs em alerta grandes
produtores e exportadores de petróleo e gás, já afeta decisões de investimento
de amplos setores industriais, desvia recursos do mercado brasileiro para o
americano e impõe um duro desafio aos formuladores da política brasileira de
energia. Uma tecnologia econômica de exploração do gás de xisto derrubou o
preço do gás nos Estados Unidos de US$ 8,9 por milhão de BTU em 2008 para US$
2,7 em 2012 (o BTU, British Termal Unit, corresponde a 252,2 calorias e é
medida usada internacionalmente).
O novo
preço corresponde a um quinto do encontrado no Brasil, onde indústrias muito
dependentes do gás - dos setores de cerâmica, vidro e petroquímica, por exemplo
- perdem competitividade, paralisam planos de expansão ou reorientam
investimentos para fora do País, além de aumentar as importações.
Autoridades
brasileiras finalmente reagiram às novas condições de preços e às perspectivas
de grandes mudanças no mercado. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) decidiu
incluir a exploração do xisto no próximo leilão de blocos de gás, previsto para
os dias 30 e 31 de outubro. A licitação deverá incluir as Bacias do Parecis
(MT), do Parnaíba (entre Maranhão e Piauí), do Recôncavo (BA), do Paraná (entre
PR e MS) e do São Francisco (entre MG e BA). A ideia é usar a técnica de
fraturamento das rochas de xisto usada nos Estados Unidos.
Com a
exploração do gás de xisto, os Estados Unidos poderão tornar-se independentes -
ou muito menos dependentes - do petróleo importado, segundo previsões correntes
entre especialistas. De qualquer forma, há perspectivas de grandes mudanças no
mercado de hidrocarbonetos e isso já incomoda os grandes produtores e
exportadores, como a Rússia. Em janeiro, na reunião do Fórum Econômico Mundial,
em Davos, representantes do governo russo foram forçados a discutir
publicamente os efeitos dessa mudança na economia de seu país.
No
Brasil, o assunto foi virtualmente ignorado nas discussões públicas até
recentemente. A decisão da Agência Nacional do Petróleo de leiloar a exploração
de gás de xisto só foi noticiada em meados de abril. As reservas brasileiras,
estimadas em 6,4 trilhões de metros cúbicos, estão em décimo lugar na
classificação internacional. A China detém as maiores reservas (36,1 trilhões
de metros cúbicos), seguida pelos Estados Unidos (24,4 trilhões) e pela
Argentina (21,9 trilhões).
Com essa
novidade, as empresas do setor de petróleo e gás deverão dar importância,
novamente, às atividades em terra, deixadas em segundo plano desde as primeiras
descobertas de hidrocarbonetos no mar, nos anos 70. A concentração de recursos
na exploração de reservas marítimas ainda se intensificou a partir da
descoberta do pré-sal. Desde o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
a ação da Petrobrás foi orientada como se a exploração do pré-sal pudesse mudar
amplamente as condições do mercado internacional em poucos anos, convertendo o
Brasil em uma das principais potências petrolíferas.
A
exploração de reservas em águas muito profundas é, sem dúvida, promissora, mas
nenhum planejador deveria menosprezar as dificuldades e incertezas
tecnológicas, os custos enormes, a insegurança quanto aos prazos e,
naturalmente, o desenvolvimento de novas técnicas e de outras fontes de
energia.
O governo
brasileiro assumiu um risco muito grande ao concentrar suas fichas nas
possibilidades do pré-sal, deixando em plano inferior até os objetivos
imediatos de produção, essenciais para o atendimento do mercado e até para a
geração de caixa da Petrobrás, reconvertida em grande importadora de
combustíveis.
A nova
exploração do gás de xisto nos Estados Unidos é um claro exemplo dos riscos
ignorados ou desprezados na política energética brasileira. E é também - é
sempre útil lembrar - um exemplo instrutivo das vantagens da flexibilidade
econômica americana. Enquanto os outros choravam as dores da crise econômica,
os americanos viravam o jogo no mercado de recursos energéticos. (O Estado de
São Paulo)
Um comentário:
A matéria não diz qual essa "nova tecnologia econômica", dando a entender que é um ovo processo, uma nova técnica, uma descoberta. O Brasil pode, se quiser, fazer a mesma coisa. E os investimentos no pré-sal não são estatais. Os investidores internacionais não são criancinhas.
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