segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A sujeira continua na esplanada dos Ministérios...

Analista do Ministério das Cidades relata a pressão para mudar parecer de obra da Copa

Em entrevista exclusiva ao Estado,  o analista técnico do Ministério das Cidades Higor Guerra confirmou,  pela primeira vez, a pressão que sofreu para adulterar o processo que  trata da implantação de sistema de transporte público em Cuiabá para a  Copa do Mundo de 2014. Ele disse que a operação fraudulenta começou após  o Ministério Público de Mato Grosso pedir os documentos e a  Controladoria-Geral da União (CGU) emitir parecer contrário à obra.  “Sim, houve uma fraude”, disse ele na conversa gravada.
O funcionário também entregou à reportagem o depoimento que prestou  na sexta-feira ao Ministério Público Federal. Ele deu detalhes da  operação - revelada pelo Estado na quinta-feira - que  escondeu sua nota técnica de 8 de agosto, de número 123/2011, contrária  ao projeto de R$ 1,2 bilhão para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que  substituiu o BRT (linha rápida de ônibus). O projeto do BRT custava R$  489 milhões. A fraude foi feita para cumprir o acordo político do  governo federal com o governo de Mato Grosso, Sinval Barbosa (PMDB), a  favor do VLT.
Segundo Higor Guerra, no dia 29 de junho, numa reunião com  integrantes do governo de Mato Grosso, os técnicos estaduais  “reconheceram que não tinham conhecimento técnico sobre o projeto de  VLT, e que a decisão de sua implantação havia sido política”. A gerente  de projetos do ministério, Cristina Soja, no entanto, disse a ele que “a  posição do órgão (ministério) tinha que estar em sintonia com a decisão  do governo”. Higor afirmou que o cronograma do VLT era “falho”, “pois  previa várias fases sendo realizadas ao mesmo tempo de forma incorreta”.
O analista entregou ao Ministério Público Federal 200 páginas e nove anexos sobre o caso.
Ele disse acreditar que a fraude ocorreu no dia 26 de outubro, quando  descobriu uma “alteração” na “pasta de rede” em que são guardados esses  documentos, incluindo sua nota técnica. No dia seguinte, o Ministério  das Cidades providenciou o envio dos papéis para o Ministério Público de  Mato Grosso, com a nota técnica fraudada, agora a favor do VLT, data  retroativa a 8 de setembro e o mesmo número 123/2011. Gravação revelada  na quinta-feira pelo Estado mostra a diretora de  Mobilidade Urbana, Luiza Vianna, admitindo que a estratégia era enganar o  Ministério Público de Mato Grosso.
Higor Guerra responsabilizou Luiza pela manobra. “Ela retirou um  documento aprovado por ela e que já estava autuado no processo e  tramitava havia bastante tempo. Ela retirou e inseriu nova nota técnica e  creio que isso não é um procedimento regular.” Em reunião na  segunda-feira com assessores, Luiza disse que agiu a mando do chefe de  gabinete do ministro Mário Negromonte, Cássio Peixoto.
(…)
*Por Leandro Colon, no Estadão:

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