domingo, 8 de fevereiro de 2015

Depois da porta arrombada…


A presidente Dilma Rousseff só decidiu entregar a cabeça de Graça Foster e de todos os diretores da Petrobras, depois de muita pressão, sobretudo de integrantes da equipe econômica, a chefe do Executivo se convenceu de que, na situação em que a estatal se encontra hoje, sem capacidade de investimentos e levando seus fornecedores à falência, o risco de o país mergulhar em um longo e penoso processo de recessão se agigantou.
Na visão do Palácio do Planalto, as mudanças no comando da petroleira se tornaram questão de sobrevivência para o governo. É preciso criar um fato positivo em meio a um quadro dramático para Dilma, tanto do ponto de vista político quanto econômico. Auxiliares da presidente acreditam que, ao profissionalizar a gestão da companhia, indicará aos investidores que a limpeza da corrupção é para valer. Ninguém acredita mais na capacidade de Graça Foster de fechar os ralos que sugam bilhões de reais dos contribuintes.
A troca de comando da Petrobras, no entanto, vem tarde. Deveria ter ocorrido tão logo a Polícia Federal revelou, por meio da Operação Lava-Jato, que a maior empresa do país, até bem pouco tempo um orgulho nacional, estava sendo tragada por um esquema de corrupção sem precedentes na história. Em vez de agir rapidamente, Dilma fechou os olhos. Pior, continuou usando a estatal para sustentar a sua desastrada política econômica, com combustíveis baratos para evitar que a inflação estourasse o teto da meta, de 6,5%. Somente essa maluquice custou mais de R$ 60 bilhões à companhia.
LADEIRA ABAIXO
Por culpa do governo, que priorizou um esquema de poder montado pelo PT, a Petrobras vale hoje, na bolsa de valores, menos do que há 10 anos. A empresa virou sinônimo de descrédito. Ostenta o maior endividamento corporativo do mundo — cerca de R$ 330 bilhões. Está a um passo de rebaixamento e pode levar o país para o buraco.
A petroleira admitiu, em seu último balanço financeiro — sem a chancela de auditores independentes —, que a corrupção lhe roubou ao menos R$ 88,6 bilhões. Dilma achou esse valor exagerado e ficou furiosa por Graça Foster ter relevado a quantia. Os especialistas acreditam que a roubalheira pode ser ainda maior, e há razões de sobra para isso.
A agora ex-presidente da Petrobras está alegando problemas emocionais para justificar sua demissão. O país, no entanto, espera que ela e Dilma tenham a grandeza de explicarem claramente, sem rodeios, qual a real situação da estatal. Não há mais como omitir fatos tão relevantes. Sem transparência, a futura direção da petroleira já tomará posse sob suspeição. Corre o risco de ser engolfada pelas denúncias que horrorizaram a população. Na situação atual da Petrobras, não há espaço para uma segunda chance.
*Vicente Nunes, no Correio Braziliense

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