segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A outra “coisa” não é “boa coisa” nem para os bolivarianos.

(Enrique Marcarian/Reuters)
Nicolás Maduro, vice-presidente da Venezuela é um ex-motorista de ônibus, que adotou sem restrições o discurso bolivariano e já incitou militares paraguaios a um levante. Mas não tem a confiança de todos em seu partido.

Apontado pelo ditador da Venezuela, Hugo Chávez, como seu possível
sucessor, o ministro das Relações Exteriores e vice-presidente venezuelano Nicolás Maduros Moros, 50 anos, é considerado um moderado.

Mas entenda-se: moderado para um chavista. Como chanceler, ele adotou ao pé da letra o discurso anti-imperialista do caudilho e agiu para expandir o raio de ação do bolivarianismo.

Em julho, por exemplo, Maduro foi flagrado em conversa com militares paraguaios em meio à crise que resultou na perda de mandato do presidente Fernando Lugo.

O encontro serviu para
incitar os oficiais a resistir ao impeachment que estava em curso – um processo realizado de pleno acordo com a Constituição paraguaia.

Oposição ao golpe - Ex-motorista de ônibus em Caracas e líder sindical com formação em Cuba, Maduro já contrariou a vontade de seu atual padrinho. No início dos anos 1990, o atual vice venezuelano se opôs à tentativa de golpe liderada por Chávez contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.

Mais tarde, após unir-se ao Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), criado por Chávez, Maduro contrariou novamente as pretensões do ditador: fez parte do grupo que defendia a abstenção da organização nas eleições presidenciais de 1998. Foi voto vencido.

Mas, considerado um “homem de partido”, Maduro aceitou a derrota e passou a trabalhar pela eleição de Chávez. E, de acordo com o jornal venezuelano El Universal, ganhou sua total confiança – e a presidência do então partido chavista, o Movimento da V Repúlica (MVR), hoje incorporado ao Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Ascensão foi rápida - A partir de então, sua ascensão foi rápida: tornou-se chefe do MVR no Congresso, presidente da Comissão de Cidadania da Assembleia Nacional Constituinte e, em 2005, foi nomeado presidente da Assembleia Nacional.

No ano seguinte, foi nomeado chanceler, com a missão de tornar o serviço exterior mais comprometido com o chavismo. Em outubro passado, logo após a terceira reeleição de Chávez, o caudilho apontou Maduro como
vice-presidente, sem tirá-lo do Ministério das Relações Exteriores.

Na Venezuela, é o chefe de estado quem aponta o vice. O artigo 233 da Constituição indica que, em caso de falta absoluta do presidente eleito antes de tomar posse ou nos quatro primeiros anos de seu mandato, deve ser realizada uma nova eleição, direta e secreta, dentro de 30 dias.

“Minha opinião firme, plena como a lua cheia, irrevogável e absoluta, é que, nesse cenário que obrigaria a convocar eleições presidenciais, vocês elejam Nicolás Maduro como presidente”, disse Chávez neste sábado, ao anunciar na TV o retorno de seu câncer.

Chavismo em crise - A vontade do ditador, porém, não parece ser algo tão simples de concretizar. A vitória do caudilho foi apertada no último pleito.

E o fato de Chávez ter sempre trabalhado mais para se perpetuar no poder do que para construir um sucessor pode cobrar seu preço.

"Todos os potenciais sucessores de Chávez são pessoas que costumam polarizar, que possuem uma personalidade de confronto", disse Michael Shifter, presidente de uma organização de estudos interamericanos com sede em Washington, em entrevista à rede CNN no início deste ano.

"Eles são leais a Chávez, mas não têm a mesma capacidade de se conectar com a maioria dos venezuelanos".

As pesquisas indicaram ainda que, embora Chávez tenha forte apoio de seus partidários, outros nomes não gozam do mesmo prestígio.

Uma pesquisa feita em fevereiro pela empresa Datanálisis mostrou Maduro com o apoio de apenas 9,8% dos militantes do PSUV, indicou neste domingo a rede CNN.
* Veja.abril.com.br

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