Quarta-feira passada, em sua despedida do Palácio do Planalto, dona Dilma manteve seu olhar pregado no passado, como sempre faz. A estratégia, que se repete a cada manifestação pública dela, tem motivos óbvios: é evidente o temor da ex-ministra de se comparar diretamente com José Serra. Ela não tem biografia, não tem um histórico de realizações nem tampouco tem a oferecer a perspectiva de um futuro melhor. Por isso, opta por apostar em mistificações de um presente que está longe de ser real em comparação com um passado forjado pelo PT – em atitude típica de regimes totalitários que tentam reescrever a História. Se, ao invés de fazer ataques sem fundamento ao PSDB, a candidata resolvesse estudar o próprio país, saberia que, durante o período do governo Lula, o Brasil teve crescimento per capita médio de 2,29% desde 2002 até agora. Foi apenas o 13º maior da América Latina (entre 19 países) e o 9º da América do Sul, entre 10 países. Que grande sucesso é esse? A petista também se gabou do “excepcional” comportamento do Brasil frente à crise econômica mundial. Provavelmente, ignora – ou, pior, tenta esconder – que o país não foi o primeiro, nem o segundo e sequer o terceiro a se sair melhor da crise. Com o “espetacular crescimento” de -0,2% em 2009, aquele que Lula anuncia desde o início de seu governo, o Brasil teve o 104º melhor desempenho do mundo, de uma lista de 213 países. Dilma também comemorou o suposto fato de que hoje o povo brasileiro “não aceita mais migalhas e projetos inacabados”. Faltou dizer que, na principal tarefa da qual foi responsável no atual governo, a condução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), até agora a candidata só entregou 11% das ações prometidas. A escolhida de Lula se orgulhou, com razão, dos inegáveis ganhos de consumo da população no atual governo, em especial nas regiões mais pobres. Mas jogou embaixo do tapete números recém-revisados pelo IBGE mostrando que, na gestão tucana, o PIB per capita nordestino aproximou-se bem mais da média nacional: passou de 42,29% para 46,44%, expansão de 4,15 pontos percentuais em oito anos. Lula só conseguiu uma melhora de 0,22 ponto percentual nos cinco primeiros anos de governo. O propalado avanço dos nordestinos em direção à menor desigualdade na gestão petista é mais um mito que os números oficiais – cruéis números – também implodem. Dona Dilma pelo menos não mentiu quanto à saída de milhões de brasileiros da pobreza na última década. Mas se esqueceu de dizer que, entre 2002 e 2008, caímos do 72º para o 75º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a lista elaborada pela ONU que inclui dados sobre renda, mortalidade, esperança de vida e educação. Além disso, como lembrou o ex-governador Aécio Neves, em entrevista à revista Veja, nada seria possível se não fosse a arquitetura econômica herdada do Plano Real. E, talvez mais revelador de seu pronunciamento, a ministra praticamente não falou dela mesma na despedida. Preferiu louvar o presidente Lula por 28 vezes, chamando-o sempre de “senhor”. Deixou claro, portanto, que prefere ser conduzida a conduzir. Mostrou que, mesmo podendo ser presidente da República, estará mais para cumprir ordens e dizer “sim senhor” a Lula e ao PT, não importa o que venham a pedir. Muito melhor será eleger alguém com personalidade própria, com idéias próprias e adequadas para fazer do nosso país um lugar melhor para se viver. Alguém com quem o Brasil pode mais.
*Li no blog Pauta em ponto
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