domingo, 2 de outubro de 2016

Eleições à bala.

BRUTALIDADE: Em Goiás, Gilberto Ferreira (na foto, com revólver) matou a tiros o candidato a prefeito José Rocha (ao centro, com a mão no peito) e feriu o vice-governador José Eliton (ao lado dele). Acima, à dir., Falcon, candidato a vereador morto no Rio.

Assassinatos, atentados contra candidatos e até a entrada do crime organizado chocam o País, fazendo desta campanha eleitoral uma das mais violentas da história. É preciso agir com urgência para que a barbárie não ameace a democracia.
Em 1989, no auge do poder do narcotráfico, o candidato à Presidência da Colômbia Luís Carlos Galán foi assassinado a tiros durante um comício no município do Soacha, próximo à capital Bogotá. O crime chocou o mundo. Quase 30 anos depois, cenas desse tipo de barbárie se repetiram, desta vez no Brasil, durante a campanha das eleições municipais. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, somente até 26 de agosto foram registrados vinte homicídios envolvendo candidatos e pré-candidatos a cargos eletivos neste ano. Os assassinatos ocorreram em dez estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte, Acre, Rondônia, Rio Grande do Sul e Goiás).
Foi uma das campanhas eleitorais mais violentas da história nacional. O mais recente assassinato ocorreu na quarta-feira 28. O candidato do PTB à Prefeitura de Itumbiara, em Goiás, José Gomes da Rocha, foi morto a tiros durante um comício. Ele estava acompanhado do vice-governador José Eliton (PSDB), que acabou atingido, mas sobreviveu. O atentado aconteceu durante uma carreata. Zé Gomes, como era chamado por seus eleitores, estava na carroceria de uma caminhonete, acompanhado de José Eliton e do deputado federal Jovair Arantes (PTB).
O atirador Gilberto Ferreira do Amaral se aproximou de carro da multidão que cercava o veículo dos políticos. Aparentando frieza, Gilberto parou o automóvel e atravessou a rua em direção ao grupo. Ao chegar perto, puxou a arma e disparou treze vezes. Um tiro atingiu em cheio Zé Gomes, que morreu na hora. Outros disparos mataram o policial militar Vanilson Pereira. O quarto atingido foi o advogado da Prefeitura de Itumbiara, Célio Rezende. Ele e o vice-governador José Eliton foram levados para o hospital – ambos estão fora de perigo.
“Em um mesmo dia, cinco ataques contra candidatos foram registrados em pontos distintos do País”
Gilberto Ferreira tentou fugir, mas acabou baleado e morreu. Ele tinha 53 anos e trabalhava de motorista para a Prefeitura de Itumbiara. Ferreira havia entrado com um processo na Justiça cobrando da administração do município o pagamento de horas extras referentes aos anos de 2009 e 2013. Na ocasião, o prefeito era Zé Gomes.
O crime de Itumbiara provocou reação do TSE.  O presidente do tribunal, Gilmar Mendes, acionou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para que a Polícia Federal entrasse nas investigações. O próprio Moraes foi ao hospital onde o vice-governador José Eliton, alvejado no abdômen, está internado. “Trata-se de um episódio chocante”, classificou Mendes.
No mesmo dia do assassinato de Zé Gomes, delegacias policiais de quatro estados registraram outros atentados a candidatos. Na madrugada de quarta, o candidato a vereadorem Nova Iguaçu (RJ), Luiz Carlos Magno da Silva (PTC), teve sua casa alvejada por tiros. Em Minas Novas (MG), dois homens em uma motocicleta abriram fogo contra o carro do prefeito e candidato à reeleição da cidade, Gilberto Gomes da Silva (PPS). Ninguém ficou ferido. No município de Araçoiaba da Serra (SP), uma bomba arremessada contra a casa do candidato a prefeito Dirlei Salas (PV) destruiu o muro. Na cidade de Santa Cecília (SC), João Rodoger de Medeiros (PSD), que concorre ao cargo de prefeito de Santa Cecília (SC), sofreu uma tentativa de assassinato.

PEDÁGIO ELEITORAL
Candidato a vereador no Rio de Janeiro pelo PP Marcos Falcon, foi morto a tiros por dois homens encapuzados.
Dois dias antes, no Rio de Janeiro, o candidato a vereador no Rio de Janeiro pelo PP Marcos Falcon morreu assassinado. Foi morto a tiros por dois homens encapuzados que invadiram seu comitê de campanha, na zona norte da capital fluminense. Subtenente da Polícia Militar, Falcon era presidente da Portela e havia sofrido outros atentados.
Os casos estão sob investigação policial. Pelo modo com que foram cometidos, supõe-se que sejam crimes políticos. Trata-se, portanto, de uma situação que precisa ser enfrentada com urgência para que não se observe daqui por diante a escalada da brutalidade. Cada um dos atentados macula o processo democrático brasileiro e joga sobre o País uma sombra de medo que não pode ser aceita.
É escandalosa e muito grave também a denúncia de que, no Rio de Janeiro, milicianos cobravam até R$ 120 mil de candidatos para permitir que eles fizessem incursões por áreas dominadas por poder paralelo, que funciona à margem do Estado. Os bandidos – escondidos sob a farda da polícia – já comandam várias regiões cariocas, controlando o comércio, o transporte, o direito de ir e vir dos moradores. Agora, infiltram-se na política, truncando o processo eleitoral ao decidir quem pode entrar ou não nas regiões sob seu controle. É o crime organizado afrontando o estado democrático de direito.
MP investiga PCC nas eleições cearenses
O Ministério Público Federal investiga a influência do PCC nas eleições municipais do Ceará, revelada por ISTOÉ em sua edição 2432, de 15 de julho. Em Mombaça, no interior do Estado, procuradores tiveram acesso a áudios atribuídos ao sobrinho do candidato a prefeito Dudu Eleotério (PP), onde ele sugere que o PCC e o jogo do bicho estariam prontos para gastar R$ 20 milhões a fim de eleger seu tio. “O Dudu vai para as cabeças (…)Quando você tiver em Mombaça vou te explicar tudo (…) Eles não querem assim, dinheiro contra dinheiro? Então vai ser assim agora. Vem PCC !!!”, afirma ele para acrescentar em seguida. “O jogo do bicho está patrocinando tudo. Se eles gastarem R$ 10 milhões nós gastamos vinte para ganhar”. O CEO da principal facção criminosa do País, Alejandro Camacho, irmão de Marcola, tem fortes vínculos com Mombaça. Não à toa, na cidade ele é tratado como Junior Mombaça.
No processo, o MPF identifica o deputado estadual Naumi Amorim(PMB) – líder nas pesquisas a prefeito de Caucaia – como um dos suspeitos de ter usado sua amizade com o governador Camilo Santana para transferir um dos principais líderes do PCC, Francisco da Silva, vulgo Rafael Xilito, de um presídio para uma penitenciária em Pacatuba, onde em tese disporia de mais regalias.
Nos próximos dias, o MPF aprofundará as investigações sobre outro personagem conhecido da região: o empresário e candidato a prefeito de Morada Nova, Wanderley Nogueira (PT), ligado ao ex-líder do governo Dilma na Câmara, deputado José Guimarães.

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