Hoje
embarco para Paris.
A
minha Paris não tem nada a ver com a Paris dos ladrões que vão torrar o nosso
dinheiro por lá. Eu vou a Paris para ver gente normal.
Gente
normal conversa sobre assuntos que não sejam apenas dinheiro e compras.
Gente
normal lê livro.
Gente
normal não vai a restaurante de boné, nem se veste como prostituta (a não ser
que seja prostituta).
Gente
normal mantém distância regulamentar de quem não conhece. Não cutuca você ou o
chama de “tio” ou “amigão”.
Gente
normal diz “por favor”, “com licença” e “obrigado”.
Gente
normal respeita fila.
Gente
normal, ao volante, dá seta quando vira à direita ou à esquerda (e a seta está
sempre no sentido certo).
Gente
normal freia o carro para deixar o pedestre atravessar na faixa.
Gente
normal não padece com atrasos de ônibus e trens (e é informada dos
horários e itinerários nos pontos e estações).
Gente
normal nem sequer imagina o que é ter esgoto a céu aberto.
Gente
normal não nada em cocô.
Gente
normal está acostumada a ver ruas limpas.
Gente
normal não tem falta de luz toda semana.
Gente
normal estranha fiação aérea.
Gente
normal não sabe o que é buraco no asfalto.
Gente normal não tropeça em buraco na calçada.
Gente
normal não gosta de pagar imposto, mas tem filho em escola pública e não tem
medo de morrer de infecção em hospital público.
Gente
normal se habitua à beleza.
Gente
normal dificilmente morre assassinada.
Gente
normal se escandaliza com assaltos.
Gente
normal despreza corruptos e os coloca na cadeia e no ostracismo.
Gente
normal não diz que terrorismo é justificável.
Gente
normal admira o que lhe é superior e tenta fazer igual, sem achar que sofre de
complexo de vira-lata.
Gente
normal é uma conquista da civilização.
Paris
é especial porque é normal.
*Por Mario Sabino, em O Antagonista
Nenhum comentário:
Postar um comentário