sexta-feira, 3 de junho de 2016

Delator revela desvio de dinheiro em contrato da Presidência para pagar dívida da campanha de Dilma.


Giles Azevedo, num escritório do PT em Brasília, durante a campanha de Dilma à Presidência, em 2010. Os dois são amigos há duas décadas, desde os tempos em que militavam no PDT. (Foto: Alan Marques/Folhapress) 
O empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené, investigado na Operação Acrônimo da Polícia Federal, disse em sua delação premiada que o ex-chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff usou um contrato do Palácio do Planalto em 2015 para quitar dívidas da campanha presidencial de 2010. 

Esta é a primeira vez que a Polícia Federal obtém evidências de que o Planalto comandado por Dilma desviou dinheiro público da Presidência da República para quitar caixa dois de campanha. Segundo Bené, a operação, coordenada no gabinete presidencial, transcorreu entre 2014 e 2015, em meio às investigações da Lava Jato e da própria Acrônimo. ÉPOCA teve acesso a parte dos depoimentos de Bené prestados à Polícia Federal em sua delação, que serão usados para a abertura de novos inquéritos. Bené está preso pela PF e é acusado de ser o principal operador de Fernando Pimentel, ex-ministro de Dilma e atual governador de Minas Gerais. 

Segundo o empresário, Giles Azevedo, assessor mais próximo de Dilma, atuou para que o Planalto pagasse dívidas da campanha com a agência de comunicação Pepper, responsável pelo pleito de Dilma em 2010. 

Bené contou aos investigadores que o governador de Minas confidenciou a ele que a Pepper vinha pressionando, desde 2014, para que fossem saldadas as dívidas de campanha. Foi então que Giles Azevedo trouxe uma solução, segundo Bené – e a solução foi pagar com o dinheiro do Planalto. 


Para isso, de acordo com a delação premiada, Giles atuou para que a Secretaria de Comunicação da Presidência da República pagasse a dívida, por meio de um contrato com a agência Click. A licitação, de fato, foi feita e o contrato de R$ 44,7 milhões foi oficializado apenas em março de 2015. Ou seja, segundo relato de Bené, Giles antecipou a formalização de um contrato da Presidência que só ocorreria meses depois. Segundo o Portal da Transparência, a agência já embolsou R$ 17 milhões desde então. Além desse contrato com o Planalto, a empresa mantinha apenas um nanico com a Embratur. Perguntado sobre o anexo da delação referente ao acordo da Pepper com o Planalto, que cita a campanha presidencial, Bené disse em depoimento: “QUE FERNANDO PIMENTEL relatou ao colaborador que GILES AZEVEDO se propôs a atender ao pedido de DANIELLE (PEPPER) a partir de contratação da agência CLICK em 2015, na qual a PEPPER teria uma participação”. 


Segundo o delator, esse relato partiu de Fernando Pimentel, numa reunião ocorrida em 2014 entre o atual governador de Minas e Giles, num apartamento na Quadra 114 sul, em Brasília. “Em uma oportunidade no ano de 2014, FERNANDO PIMENTEL chamou o colaborador para um encontro no apartamento localizado na 114 sul, quando relatou que tivera um encontro que acabara de acontecer com GILES AZEVEDO sobre cobranças que ambos vinham recebendo de DANIELLE (PEPPER).” De acordo com Bené, a contratação de agência Click seria uma maneira de “não expor as partes (governo e Pepper)”. 

Bené, contudo, disse que não atuou no caso e, por isso, não poderia informar sobre pagamentos ou irregularidades no contrato. Segundo ÉPOCA apurou, haverá um inquérito para investigar a suspeita levantada por Bené. 


MAIS DINHEIRO PARA O PT EM 2014 

A delação de Bené acusa também o PT de arrecadar propina como doação eleitoral na campanha de 2014. Esse valor foi, inclusive, destinado ao diretório nacional do partido. Naquele momento, vale registrar, a Operação Lava Jato já estava na rua. O empresário afirma que Pimentel cobrou R$ 5 milhões em propina do grupo JHSF. O valor foi usado, de acordo com o delator, como compensação pelo lobby que Pimentel fez para que o grupo pudesse operar no aeroporto Catarina, em São Roque. Para isso, segundo Bené, Pimentel tentaria viabilizar financiamento do BNDES, a autorização da Secretaria de Aviação Civil e que os Correios passassem a usar o aeroporto. Segundo Bené, apenas a autorização saiu. 

O delator afirma que, de início, foi discutido colocar Fernando Pimentel como sócio oculto do aeroporto. Depois, acharam mais prático simplesmente cobrar R$ 5 milhões. A propina, segundo o delator, foi acertada no apartamento de Fernando Pimentel, em Brasília. Bené dá detalhes. Antes do encontro, ele foi informado por Pimentel que deveria cobrar R$ 5 milhões. Na reunião, não foi tratado de dinheiro – apenas falaram das demandas da empresa. Foi então que Bené acompanhou os empresários até a saída do prédio e informou o valor da propina com José Auriemo Neto, apelidado de Zeco, e um executivo chamado Humberto. “Ao final desse encontro, O colaborador acompanhou ZECO e HUMBERTO até a saída do edifício da residência de FERNANDO PIMENTEL, oportunidade em que o colaborador informou aos empresários a solicitação de 5 (cinco) milhões de reais, o que foi aceito por eles.” 

Em nota, o advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, desqualifica a delação de Bené. “É preciso lembrar que a delação por si só não é elemento de prova e a divulgação de parte de seu suposto conteúdo, ainda na fase do primeiro depoimento, além de ilegal, o que pode invalidá-la, não tem outro sentido senão o de influenciar a opinião pública e promover a antecipação da condenação do investigado”, diz. 

Em nota, Giles de Azevedo negou veemente as acusações de Bené. “Giles de Azevedo vem a público esclarecer que desconhece o teor da colaboração premiada do senhor Benedito Oliveira. De qualquer forma, ressalta que os fatos indicados na matéria são inverídicos e não encontram respaldo na realidade, além de serem baseados em narrações de "ouvir dizer" de terceiros”, diz a nota. O assessor de Dilma afirma ainda que “nunca foi responsável por gestão ou negociação de contratos de publicidade da SECOM e tampouco conhece os representantes e/ou prepostos da Agência Click”. “Desta feita, rechaça veementemente os fatos mencionados". 

A Pepper afirmou que não comentará em função do sigilo imposto pela Justiça ao caso. A agência Click afirma que nunca repassou dinheiro à Pepper. “A Isobar Brasil (nome atual da AgênciaClick Isobar) informa que nunca teve e não mantém qualquer relação comercial com a empresa alvo de apuração da reportagem da revista ÉPOCA. A Isobar reitera que, sendo uma das agências de comunicação que prestam serviços à Secom (Secretaria de Comunicação), cumpre rigorosamente as cláusulas previstas pelo contrato com o governo federal.” 

A JHSF afirmou que recebeu “com surpresa a notícia de que foi mencionada em delação premiada” de Bené. A empresa afirma que “não cometeu qualquer ilícito, tendo feito apenas contribuições na forma da lei”. 
                       *FILIPE COUTINHO E TALITA FERNANDES, na Revista Época 

Um comentário:

Anônimo disse...

nternauta da Tribuna da Internet :
Eusebio Sant Ana
junho 3, 2016 at 7:32 am
Prezado C. Newton.
Leitor assíduo desde a “Tribuna da Imprensa” de nosso querido jornalista Helio Fernandes e para sua reflexão, ouso enviar-lhe o texto de um amigo e colega.
“Há um golpe em andamento em Brasília, precisamente no Senado Federal. O golpe é o retorno da presidente Dilma ao poder, inviabilizando o processo de impeachment, via compra de votos dos senadores. Fazendo oposição ao governo Dilma desde 15 de fevereiro de 2012, portanto há mais de 4 anos, fui criando fontes de informações seguras, até pelo processo natural. O nosso índice de acerto está em 90%. Preste atenção na denúncia que estou a fazer. O Brasil enfrenta crise de informações. A grande imprensa noticia os fatos já acontecidos. A grande imprensa não emite opinião, pelo contrário, omite. A grande imprensa tem medo do poder constituído. A grande imprensa tem medo de retaliações, numa eventual volta da presidente licenciada Dilma. Foi assim, até o afastamento da Dilma e está sendo assim, pós afastamento da Dilma. A grande imprensa teme a volta da Dilma e sofrer retaliações. Há no Senado Federal o processo de “compra de votos” dos senadores obscuros, muito deles suplentes para votar contra o impeachment da Dilma. Há uma zona cinzenta no Senado Federal composto pelos senadores biônicos ou senadores de plantão, que se vendem por pouco dinheiro. São senadores que não tem compromisso com o eleitorado. Nos últimos dias, ficou intenso o movimento de oferta de compra de votos, com “dinheiro vivo”, com coordenação da ex-ministra de agricultura, hoje senadora. O volume de dinheiro é muito alto, para deixar qualquer suplente de senador resolver a sua vida particular, são R$ milhões em “dinheiro vivo”. Para que a presidente Dilma não seja cassada, basta que 5 ou 6 senadores mudem de posição para “derrubar” a maioria absoluta necessária para o impeachment da Dilma. Para impedir o impeachment basta votos de 28 senadores, sendo que alguns já são da base aliada do PT. Falta muito pouco para conseguir os votos necessários para absolver a Dilma. A ex-ministra da Agricultura sabe disso. Ela tem muitos R$ milhões para comprar meia dúzia de senadores contra o impeachment. O impeachment da Dilma, nunca esteve tão vulnerável como agora! Dilma vai dar golpe!”