quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Samarco admite risco de rompimento em mais duas das barragens.

Daniel Marenco / Agência O Globo  
Ronaldo Pereira, 31, observa no que se transformou o Rio Doce, no municipio de Rio Doce.
RIO — A mineradora Samarco admitiu nesta terça-feira que há o risco de rompimento das barragens de Santarém e Germano, em Mariana (MG), vizinhas à barragem de Fundão, que se rompeu no último dia 5 afetando cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. Em entrevista coletiva, representantes da empresa disseram trabalhar para diminuir o perigo de acidente. 

— Tem o risco (de rompimento) e nós, para aumentar o fator de segurança e reduzirmos o risco, estamos fazendo as ações emergenciais necessárias — declarou o gerente-geral de projetos estruturais da Samarco, Germano Lopes. 

A Samarco, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP, divulgou inicialmente que a barragem de Santarém também havia se rompido, mas a informação foi corrigida. A mineradora afirmou que houve, na verdade, um “galgamento”. Isso significa que ela transbordou com os rejeitos da barragem de Fundão. Apesar disso, a empresa garante que “o maciço remanescente está íntegro mesmo parcialmente erodido”. 

O diretor de operações e infraestrutura da Samarco, Kléber Terra, explicou na entrevista coletiva que o fator de segurança na barragem de Santarém é de 1,37 numa escala de 0 a 2. Esse valor significa uma estabilidade de 37% acima do equilíbrio limite, que é 1. Na de Germano, o diretor afirmou que uma das estruturas, o dique Selinha, tem índice de 1,22, o menor em todo o complexo. 

Já Germano Lopes explicou que o fator de segurança, estabelecido pela NBR 13028, prevê que, numa condição normal de operação, a estrutura deve ter o fator de segurança de 1,5, no mínimo. Em condições adversas, é admitido fator de segurança de 1,3. O índice igual a 1 representa que a estrutura está no limite de equilíbrio. De acordo com Lopes, antes do rompimento, a barragem de Fundão tinha fator de segurança de 1,58. 


Professor de Recursos Hídricos da Unesp, Jefferson Nascimento de Oliveira concorda que existe o risco de rompimento das barragens. Ele também explica que essa escala de 0 a 2 tem esse valor porque as barragens são altas, com mais de 20 metros. 

— Quanto mais alta a barragem, menor o fator de segurança e maior é o risco — afirmou o professor, dizendo que as chuvas na região podem piorar o cenário porque pode pode trazer mais peso às barragens. — Toda e qualquer barragem corre o risco de se romper. Barragem é um equipamento muito perigoso. Tem que ter um plano de ação emergencial e um monitoramento constante. 

Santarém e Germano passam agora por obras emergenciais. Blocos de rocha estão sendo colocados de cima para baixo, para reforçar a estrutura. Este procedimento deve durar cerca de 45 dias em Germano e 90 dias na de Santarém. A Samarco planeja, na área das barragens, construção de diques à frente de Santarém para conter os rejeitos. 

A mineradora informou ainda que vai utilizar floculantes, como deve ocorrer no Rio Doce. O uso de floculantes, que fazem com que os detritos sólidos se aglomerem e precipitem para o fundo do rio, foi uma das medidas sugeridas pelo Ibama para diminuir o impacto do desastre. Os sedimentos serão retirados por meio de equipamentos chamados dragas e colocados em “ecobags”, um tipo de tecido que funciona como filtro, por meio do qual o sólido é retido. 

O maciço — que é o corpo principal — desta última barragem está preservado, segundo a mineradora, embora haja danos no ponto mais alto, chamado de crista, e em parte do vertedouro, estrutura que permite a saída de água. 

— A barragem de Santarém está com volume de 5,5 a 6 milhões de metros cúbicos retidos nela de sedimentos. A barragem de Fundão, para a gente comparar, estava com 55 milhões de metros cúbicos. A gente está falando de uma escala 10 vezes menor — disse Terra. 

A Samarco informou na semana passada que a barragem de Germano está exaurida, mas não divulgou o volume atual e a capacidade da estrutura. Terra disse que é feito um monitoramento contínuo e que não foi percebida nenhuma movimentação das barragens. 

Daniel Marenco / Agência O Globo  
Funcionários do Instituto Estadual do Meio Ambiente coletam amostras de água na foz do Rio Doce, em Linhares, ES. 
Daniel Marenco / Agência O Globo.

A lama formada com o rompimento da barragem chegou na segunda-feira ao município de Baixo Guandu, no Espírito Santo. Moradores foram até a ponte Mauá para ver a água turva chegar. A cidade passou a fazer a captação do Rio Guandu, suspendendo o uso da água do Rio Doce. As atividades da Usina de Mascarenhas foram suspensas com a chegada da lama. A previsão do Serviço Geológico do Brasil é que a água turva chegue ao município de Colatina (ES) hoje e, em dois dias, em Linhares, onde o rio se encontra com o mar. 

Nesta terça-feira, o governo de Minas Gerais decretou situação de emergência na região na Bacia do Rio Doce e nos municípios afetados pelo rompimento das barragens no município de Mariana. Com isso, as cidades atingidas podem ter mais agilidade na execução de obras emergenciais. A situação de emergência vai vigorar pelos próximos 180 dias. 

Os protestos contra a Vale continuam. Na noite desta terça-feira, manifestantes se reuniram em Vitória em frente à portaria da Vale. A portaria da empresa foi pichada e teve os vidros quebrados. A Polícia Federal abriu hoje inquérito para investigar o acidente na barragem de Fundão. A Polícia Civil também investiga a tragédia. Moradores dos distritos atingidos começaram a ser ouvidos.
                    * O GLOBO 

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