segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Maduro, sob pressão da crise, das dúvidas e da dívida.



 

El Presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, habla en un acto en Caracas el 11 de septiembre pasado.
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, discursa num ato em Caracas em 11 de setembro último. MIGUEL GUTIERREZ / EFE
Apesar de contar ainda com uma significativa renda petroleira e com o controle quase absoluto dos poderes do estado venezuelano, a liderança de Nicolás Maduro não consegue impedir que a chamada “Revolução Bolivariana” comece a fazer água, com níveis de impopularidade que já superam os 60 por cento, além dos atritos internos que ameaçam a integridade estrutural do regime imposto à população por via do contumaz aproveitamento político das fraquezas institucionais da antes florescente democracia na Venezuela.

Dizem os entendidos que o ex-motorista de ônibus e pelego sindical Maduro perdeu o ‘capital político’ acumulado pelo falecido presidente Hugo Chávez de forma impressionante, numa hora em que a crise econômica e sua escassez cada vez mais aguda de produtos básicos de consumo é grave e acentua a hostilidade venezuelana fortemente convencida de que ele está no poder de forma ilegal por haver fraudado o resultados das eleições e, mesmo assim, ter vencido Capriles por uma diferença desprezível de 300 mil votos e por não admitir uma auditoria externa na contagem desses votos.
Tudo isso faz com que o regime seja suspeito de se caminhar para uma ditadura – que, na prática já é – declarada pelas dúvidas que suscita entre os diferentes setores do chavezismo sobre a sua capacidade de manter em progressão o projeto bolivariano.
Um professor de Relações Internacionais da Universidade de Boston, Carlos Blanco, afirmou que “a deterioração do apoio político a Maduro é realmente impressionante, e ele não tem conseguido conservar a liderança que Chávez, embora fragilizado pela doença nos últimos tempos a mantinha incólume. Trata-se de algo evidente inclusive dentro das próprias hostes chavezistas, que atuam sabendo que já têm seus dias contados”, enfatizou o professor latino. “Já estão funcionando com perspectivas de muito curto prazo, numa espécie de ‘operação de sobrevivência’. O barco bolivariano está fazendo água por todos os lados”, assinalou.
A queda de popularidade do atual governante venezuelano está sendo mostrada pela quase totalidade das enquetes, inclusive as conduzidas pelos institutos controlados pelo governo que apresentam resultados muito parecidos com os independentes, chamados pelo regime como sendo “de oposição”.
A mais recente delas, elaborada pela firma “Alfredo Keller y Asociados”, mostrou que a oposição continua a se consolidar na maior parte do país, com níveis de aceitação de 42 por cento, ao passo que o chavezismo continua a se deteriorar, situando-se em 34 por cento de aprovação.
Tal pesquisa mostra, do mesmo modo, que o pessimismo dos venezuelanos quanto ao futuro do país, aumentou de 53 para 61 por cento, considerando-se que a situação em geral vai de mal a pior e que apenas 39 por cento considera que o país vai bem ou está melhorando. De qualquer modo, a Venezuela continua a ser um país amplamente dividido, mas que apresenta um franco deslocamento do ponto de divisão em favor da oposição.
Quando Hugo Chávez ainda estava vivo, no ano passado, essa tendência era inversa, com o otimismo superando o pessimismo em mais de 15 pontos percentuais. Hoje a coisa virou numa guinada de mais de 180 graus, com um índice de rejeição à Maduro e ao bolivarianismo que se situa em 54 a 43 por cento, com uma tendência de aumentar essa diferença de modo marcante a continuar as medidas autoritárias de Caracas, principalmente as econômicas e a persistir a imensa falta de segurança pública e violência criminal tratada com condescendência e ineficiência pelo poder.
Há enquetes que situam a desaprovação a Maduro e ao regime em mais de 60 por cento, enquanto os entendidos dizem que Maduro e seu regime muito próximo a uma ditadura semelhante à de Cuba estão sendo atingidos de forma dura pela crise econômica que arrasa o país, a qual, no entanto, foi causada pelas decisões socialistas de Chávez, e que Maduro, agora, ao continuar a adotar medidas na linha chavezista, está pagando o preço do custo político dos desacertos de ambos. Tudo isso agravado agora pelo fato de Maduro não ter um décimo da liderança populista e o carisma demagogo que seu antecessor possuía perante as massas ignaras.
As pessoas hoje responsabilizam Maduro pela ‘gestão desastrosa’, o que não ocorria com Chávez, que tinha a habilidade dos caudilhos de despejar um monte de mentiras bem articuladas sobre uma população mal politizada e de baixíssima escolaridade, que se mostrava “hipnotizada” por seu mandatário. Com Chávez a estória sempre foi a de jogar a culpa dos maus resultados em seus ministros e colaboradores, a quem os substituía situando-os em cargos que, na maioria das vezes, era mais uma promoção do que uma punição. Já viu esse filme, aqui no Brasil?
“Pois é, mas, agora, quem está sendo imputado é o próprio Maduro”, comentou o assessor político governista Orlando Viera Blanco.
*FRANCISCO VIANNA (com agência de notícias espanhola EFE)

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