Por Josias de Souza:
Alimentada pelos sinais ambíguos emitidos pelas 'antenas' de Serra, a discussão processa-se longe dos refletores. E vai ganhando contornos inusitados.
A direção do DEM começa a admitir a hipótese de rever uma decisão que apresentara como irreversível.
O DEM anunciara que faria em 2012 alianças com quaisquer partidos, exceto dois: o PT e o PSD de seu ex-filiado Gilberto Kassab.
Agora, a legenda de cujos quadros Kassab extraiu o grosso da matéria prima que deu origem ao PSD reposiciona-se na cena paulistana.
Kassab já cuidou de avisar publicamente: confirmando-se a volta de Serra ao tabuleiro, o apoio do PSD será “incondicional”.
Em privado, o DEM também anuncia: com Serra, a aliança com o tucanato deixa de ser mera cogitação. Ganha ares de fato consumado.
Esboça-se um primeiro problema. A tribo do DEM entra no debate impondo uma condição: topa juntar-se ao PSD, mas exige indicar o segundo da chapa.
Leva à mesa, como alternativa de vice para Serra, o nome de Rodrigo Garcia, atual secretário de Desenvolvimento Social do governo tucano de Geraldo Alckmin.
O diabo é que, a despeito do lero-lero do apoio “incondicional”, Kassab também ambiciona indicar o vice numa eventual chapa encabeçada por Serra.
Presidente do DEM federal, o senador José Agripino Maia (RN) fixou as balizas do comportamento da legenda numa reunião com a seccional de São Paulo.
Participaram os vereadores e os quatro deputados federais que resistiram às investidas de Kassab e mantiveram-se nos quadros do DEM no Estado.
Ficou acertado que, enquanto o PSDB rumina suas hesitações, o DEM testaria as chances de uma candidatura própria à prefeitura, encarnada por Rodrigo Garcia.
Também ficou entendido que, antes de negociar uma mudança de rota, Agripino ouviria o colegiado de São Paulo.
Hoje, com Serra ou sem ele, esse núcleo é avesso à ideia de ajustar-se com o PSDB sem indicar o vice. Abrir mão da vaga para o PSD é algo visto como uma heresia.
Embora debilitado, o DEM dispõe de um trunfo que Kassab não tem: cerca de três minutos de propaganda eleitoral televisiva. Por isso, acha que pode falar grosso.
O debate fervilha em meio à frieza calculista de Serra. Depois de declarar que não seria candidato, ele passou a alimentar as pistas em contrário.
Há duas semanas, Serra participou de um jantar oferecido pelo senador e amigo Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), em Brasília.
Um dos presentes, o senador Pedro Taques (PDT-MT), provocou: “E a sucessão paulista?” Serra refugiou-se calendário: “Está muito cedo”.
Taques conjecturou: “Se você fosse candidato, ganharia.” Serra economizou nas palavras, mas soou convenientemente dúbio: “É possível.”
Dias atrás, o governador Geraldo Alckmin recebeu a visita de Alexandre Morais, um filiado do DEM, ex-secretário de Transportes da gestão municipal de Kassab.
Conversaram sobre 2012. Ao relatar o diálogo a amigos, Moares contou que Alckmin, antes cético, agora parece convencido de que Serra será, sim, candidato.
Por quê? Avalia-se que Serra, já isolado no PSDB federal, arrisca-se a perder terreno também no tucanato paulista.
Para recobrar parte do prestígio perdido, não restaria a Serra senão tentar retornar à prefeitura e manter-se de tocaia para 2014.
Como que decidido a conservar a porta entreaberta para Serra, Alckmin empurra para março uma prévia que o PSDB-SP queria fazer em janeiro.
Convertido em interrogação, Serra inferniza os quatro tucanos que brigam pela vaga de candidato: Bruno Covas, José Anibal, Andrea Matarazzo e Ricardo Trípoli.
A despeito da taxa de rejeição, na casa dos 30%, Serra é visto pelo PSDB e aliados como o melhor nome para medir forças com Fernando Haddad (PT), o dodói de Lula.
*Josias de Souza
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