sábado, 19 de novembro de 2011

Governo faz, com nosso dinheiro, estádios para particulares.

A Folha publicou reportagem (íntegra para assinantes) inquietante sobre o funcionamento de algumas PPPs para construção de estádios para a Copa do Mundo. Leiam trechos, voltamos em seguida:
Dinheiro público sustenta parcerias em   estádios da Copa – Apesar de presença do setor privado, verba dos governos   supera 60% dos orçamentos das arenas em BA, CE e PE – Procuradoria afirma que   modelo das PPPs foi desvirtuado porque a verba deveria sair das empresas   interessadas – O dinheiro público está bancando mais de 60% das obras de   estádios da Copa-2014 erguidos com as PPPs (parcerias   público-privadas). O grupo do Ministério Público Federal que acompanha a   preparação do evento diz que isso desvirtua o modelo, no qual o setor privado   financia e executa determinada obra ou serviço em troca do direito de   concessão. No caso mais grave, o setor público se comprometeu com 80% do   orçamento da reconstrução do estádio da Fonte Nova, em Salvador (…)   Mesmo tendo optado pela PPP, os governos de Bahia, Ceará e Pernambuco   receberam um financiamento total de R$ 1 bilhão do BNDES para erguer arenas   que vão custar, juntas, R$ 1,76 bilhão. O banco de fomento da União ainda   analisa pedidos para as arenas de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte. Bahia   e Ceará contraíram empréstimos para repassar o dinheiro às parceiras   privadas. Pernambuco vai usar a maior parte da verba para ressarcir o que foi   investido (…) Segundo a procuradora, caberia ao empreendedor privado buscar o   empréstimo no mercado, oferecendo garantias corporativas em troca do dinheiro.   Mesmo sendo capazes de financiar sozinhos suas arenas, Estados que optaram   pela PPP estão desobrigados de fazer licitações. Isso significa agilidade, mas   dificulta a fiscalização dos recursos. Técnicos do Tribunal de Contas da Bahia   recomendam que só 20% do empréstimo seja liberado até que os responsáveis   apresentem o projeto da arena Fonte Nova. O caso ainda não foi julgado.   Além de pegar R$ 323,63 milhões do BNDES para repassar ao parceiro   privado, o governo da Bahia emprestou R$ 50 milhões para demolir o estádio   velho. O restante foi emprestado ao consórcio pelo Banco do Nordeste. Após a   conclusão da obra, o governo baiano terá que pagar cerca de R$ 1,5 bilhão em   15 anos, valor três vezes maior ao inicialmente orçado. Também está   prevista divisão de lucros e prejuízos entre os parceiros pelos 35 anos da   concessão da arena. Se o estádio fechar o ano no zero, a Bahia terá que bancar   metade do custo de manutenção, que é estimado hoje em R$ 2 milhões… (grifos   nossos)
Comentário
As PPPs (Parcerias Público-Privadas) funcionam (ou deveriam funcionar…) assim: determinada empresa ou consórcio privado executa uma obra e, depois de pronta, ganha o direito à concessão e exploração. Esse tipo de vínculo contratual é comum em áreas de atuação direta da Administração Pública (como a saúde). É de estranhar que tenham optado por isso para construir estádios (bastaria uma empresa construir e, pronto, é dela).
Daí começa a farra. O BNDES empresta PARA OS ESTADOS, que repassam aos consórcios, que constroem os estádios sem colocar um tostão e, depois, ganham o direito de explorá-lo. Negócio infalível (para o setor privado que consegue a honra de ‘realizar’ uma obra assim).
Entenderam agora alegria de alguns políticos quando fomos escolhidos como sede da Copa do Mundo? Alegria sincera, de fato. Mas talvez nem gostem de futebol. Gostam de PPPs com dinheiro público.

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